segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Loira Sexta


Loira Sexta


Era quatro da tarde de uma sexta tímida com o sol a procura de descansar no horizonte. Ela passou por mim como uma flecha que atravessa a floresta do asfalto escuro. Carros aflitos de lado para o outro, dois homens carregando algumas grossas madeiras sob as vista do gerente do comércio, logo ao lado um grupo de homens bem vestidos na calçada discutindo as últimas negociações imobiliárias da semana e bem próximo uns meninos de bicicleta sem os fardos da vida adulta transpirando felicidade. A moça linda de passos apressados cruza a rua com loiros e belos cabelos esvoaçantes. Um rosto aflito de talvez alguém que tinha hora para chegar e foi traída pela pressa do relógio. Observo com atenção a calça em tom escuro, a bolsa e camisa em bege claro e o semblante de seriedade com as maças do rosto um pouco ruboradas devido aos últimos calores do dia. Manobro o carro alguns metros depois na tentativa de abordá-la com um simpático e gentil boa tarde. Vã tentativa. Vejo apenas as costas com os longos fios claros entrarem pela elegante porta de vidro. Fechou-se a porta. Fechou-se a oportunidade.

                                                                            Vinicius Lúcio

                                                                            07 de agosto de 2011

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Homens sem sonhos: Igreja medíocre




           Cadê os meus sonhos? Projetos de mudar mundo? Ajudar o próximo? O viciado, o desvalido, o preso? Cadê o Cristão que acho ainda ser? Me encaixei tão perfeitamente aos modelos dessa sociedadezinha materialista. Me tornei um jovem “comum”, repleto de sonhos (desculpem o uso desta nobre palavra) banais: um carro legal, uma mulher especial para casar, uma família feliz, uma vida confortável. Meu Deus! Coisas válidas, mas medíocres diante dos planos magníficos de Deus para minha geração. Perdido? Estou sim. Diante de uma geração de jovens cristãos e uma Igreja doente. Obcecada por dinheiro, status, megatemplos, programas de TV. Líderes raramente comprometidos com vidas das pessoas, mas com a produtividade da organização. Entorpecidos pela lógica do sucesso humano. Tantas vezes me invade a nostalgia daqueles cultos há pouco mais de uma década tão cheios de simplicidade. Músicas congregacionais simples; comunidades pequenas onde todos se conheciam e se ajudavam; cristãos menos nominais e mais dados à ação. Sim, muito mais verdadeiros.
            Claro, a Igreja mudou sim, ficou menos ranzinza, massificou a pregação (apesar de centrar mais no Templo de Salomão do que na Cruz de Cristo), sem dúvida usa os meios de comunicação com maestria, mas me soa tão vazio, sem vida, sem brilho nos olhos, negócio “marketeado” mais feito para agradar (bem estilo Pe. Fabio de Melo, apesar dele ter uma dezena de virtudes) do que para impactar profundamente. Há uma preocupação que oscila no binômio adesão/conversão. Então juntar gente e manipulá-las é a grande tentação.
          Nem poderia esquecer, pois chegamos ao estágio da Igreja à La Carte, ou seja, tem para todos os gostos, veja o menu e escolhas suas preferências. Até nem acho ruim, mas vê lá o que se prega e vive. Das históricas às neopentecostais todas com suas contradições, sincretismos e teologias. Por falar em teologia, quanta briga medíocre coisa de acadêmico e pastor dono da verdade que não sabe nem amar o filho drogado morador do quarto vizinho. Tratemos das ações relevantes, dos feridos da guerra pós-moderna que sangram nos bancos a cada domingo pedindo cura e achando na maioria das vezes só morfina para aliviar a agonia. Quantos malucos, amigos meus de tantas igrejas, pensando em suicídio, engravidando outra vez a namorada, em depressão, transtornos psicológicos, uma legião de Cristãos viciados em rivotril. Ai meu Deus! Tanta gente desbussolada, inclusive EU, ouvindo semanalmente a palavra que diz: “Conhecereis a verdade(Cristo), e a verdade vos libertará.”
         Eu queria perceber menos, ver menos, ser mais cego, ver e não me compadecer. Ser menos sincero comigo. O que será disso tudo daqui a dez ou vinte anos? Eu quero escrever uma história simples para Deus, na verdade não sei nem por onde começar. Só Ele pode me ajudar.
          E ao final permaneça a mensagem de Cristo como uma bandeira hasteada. Pois, sim, ainda é esta Cruz sem graça e requinte humano que atrai um pecador como eu e salva o perdido e o ama de maneira única e especial.

                                            
                                                                             Vinicius  Lúcio