quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Vou vira cientista


Vou virar cientista
E cria equipamento
Moderno e inteligente
Tradutor de gemidos e lamentos
E até de olhar indecente

Nem poetas ou compositores
Nem versos ou canções
Poderão ver os horrores
Contidos nas informações

Vou extorquir a toda pessoa
Homem, mulher e menino
Ameaçando criar a coroa
Da mais insincera mulher
E do homem mais sem-vergonha

Vou premiar a verdadeira
E oferecer a minha poesia
Parabenizar a rameira
Que nunca disse ser Maria

Vou rir de menino
Contador de mentira
Que pra enganar a menina
Arrumou dinheiro na mina
Do bolso do seu pai fazendeiro
Dono de um bode e um galinheiro

O equipamento falhou
E o cientista também
Nunca mais amou
E nem se apaixonou por ninguém

 
                                                                       Vinicius Lúcio

Perseverança

domingo, 24 de outubro de 2010

Decifrador de Sorrisos

Se eu pudesse decifrar
Todos os enigmas da vida
Pelos sorrisos iria me aventurar
Como cachoeira que só tem ida
Me poria a correr pro mar

Provocando sentimentos
Despertando sinceras palavras
Extrairia-os até da garganta dos lamentos
Tolos, falsos, espontâneos, incontroláveis
Cativantes ou afáveis

Catalogaria
Num lindo painel de estrelas
os motivos não importaria
dos garotos e suas troças
dos velhos e sua anedotas
das mulheres e suas conjurações
dos homens e suas indagações

Todos poderiam contemplar
Numa bela noite
De preferência aquelas de luar
Todos os sorrisos a dançar
Num céu de música e encanto
Onde nesse dia
Proibiu-se a dor e o pranto

Os hospitais, escolas e faculdades
Em todo lugar
Nos sítios e nas cidades
Todos intimados a decifrar
Bocas e sorrisos de todas as idades

E eu seria apenas mais um
Procurando ansioso naquele painel
O seu sorriso que achei
Numa dessas noites de lindo céu

                                                                     Vinicius Lúcio

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Feição Depressiva...

Caros leitores e leitoras,

Este blog não tem a pretensão de mudar o destino da humanidade e tem cárater experimental.

Então decidi que colocarei apenas 100 postagens neste singelo blog...após isto irei para outro universo...

O Teatro das Palavras fechará as cortinas até o final deste ano....e RENASCERÁ de outro modo que ainda não sei!

Com carinho,

Vinicius Lúcio

Algodão Doce


Quero ser criança
No mundo dos adultos
Sem malícia
Amante da vida

Pular e dançar
E soltar pum
beijar e amar
Perdoar-me
E perdoar

Ser enganado
Sorrir
E ser ludibriado

Comer pimenta doce
Levar escorregão
Brincar na chuva
Ser
Sem esconder
O choro e a dor
A lágrima e o amor


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Seres Malandro(s)


 
            Devo confessar a admiração velada que acalento pelos estelionatários, sempre distintos e respeitados, geralmente bem vestidos, ostentando impressionante vocabulário e oratória merecedora de digna atenção. São uma subclasse, quer dizer, classe especial, separando-se dos crimes de sangue e do uso de pólvora e espoleta. Manejam com maestria as palavras, o verbo, o truque, o engodo, o conto do vigário, a falha do sistema, o descuido do analista de segurança, andam no rastro do vacilo do investigador mais perspicaz a sua procura. Jesus os chamaria de raposas com razão. Talvez, Chico Anísio inspirou-se neles para criar o seu contador de mentiras, Coronel Pantaleão.
            Estes vulgarmente intitulados nos círculos policiais de “171’s”, não é crível deduzir que só roubam por dinheiro, mas por sentimento mais nobre e honesto, nesta sociedade de falsidades veladas, ludibriam pela prazer de enganar, semelhante ao pescador esperando a vara tremer sentindo o peixe lutar em vão, mas se por uns poucos segundos o animal pudesse ver a isca e o anzol, o engodo e a recompensa, a promessa desproporcional a vantagem, a ilusão e mundo real, a tolice e a razão, o desequilíbrio e o bom senso.
Afinal, o estelionatário é um pouco da medida do ser humano, assim, são levianos, aparentes, circunstanciais, aproveitadores, caçadores de vantagens fáceis e imediatas. Eles aplicam a dose de forma magistral. Inoculam ilusão, vendem um espelho de desejos, no qual esperar e refletir são verbos demasiadamente difíceis, para uma sociedade na qual ofertam-se horas, todos os dias,  em relacionamentos de açúcar, reuniões de faz-de-conta, promessas impossíveis, produtos impagáveis, padrões de vida desumanos, luxos medíocres.
             Os peixes terrestres construíram submarinos nucleares capazes de permanecerem meses submersos, todavia, ainda não são aptos a atentamente observarem a isca e o anzol, a provocação e a destruição, a palavra doce e o golpe de mestre.

domingo, 17 de outubro de 2010

Hoje a que me convém...

Poeta Arrependido


Poeta Arrependido

Tomei algumas letras
Prendi aos pensamentos
Dediquei tempo a provocá-los
Não ouviram os lamentos

Poeta-menor voltou
Apaixonado e arrependido
Posso ouvir seus gemidos
Letras amarguradas
Perdoa-me o desleixo
Lembrei de vocês abandonadas

Volta a dar-me a poesia
Mesmo que a mais boba
Não chora, me traz a alegria
Vamos dançar pra esquecer
Vou cantar pra ti ter todo dia.

                                                           Vinicius Lúcio

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pra Você

Por você
Cozinho no escuro
Faço omelete nas mãos
Como coalhada
Me visto de batman
Corro nu na madrugada
Planto bananeiras
Danço balé na praça da bandeira
Corro da polícia
Em manobras de skatista
Pulo com pára-quedas rosa-choque
Até entro no BOPE

Para você
Aprendo física e matemática
Faço uma guerra ática
Bagunço as teorias de Newton
Explodo em megatons
Venço uma corrida com a luz
Pinto um arco-íris na janela
Viro um homem-luz

Para você...

Vinicius Lúcio

Entre e fecha a porta...


Honestite


            Em dias em que os discursos tornam-se cada vez mais desprovidos de força de convencimento e transformação. Num contexto de sociedade condescendente com os desvios de conduta moral, pode-se ver o triunfo da maracutaia, da leviandade, da escrotidão, ou seja, do planalto da capital federal aos relacionamentos humanos, nos territórios mais distintos da vida humana, locupletar-se, obter vantagem, enganar, ludibriar, dar um “migué”. Não há sequer um confronto de verdades, é o embate glorioso das mentiras, das falácias políticas, dos embustes amorosos sem qualquer sinceridade.
            Produziu-se a mais nova doença do século XXI, a honestite, é a vergonha se ser honesto, de se portar dignamente, de ser fiel a sua esposa, de viver alegremente com o que se ganha sem precisar usar do cargo público para gatunar a sociedade, de esperar um documento ou andamento normal do processo judicial sem ficar corroendo-se na tentação de subornar a comarca inteira para adiantar dois meses o ganho de uma causa. Tem-se a estranha sensação que fazer o certo em determinados momento é coisa de idiotas, de bobões, de frustrados e incompetentes. Tem-se a absoluta certeza da existência de atalhos e caminhos mais fáceis, e assim perambulam pelas ruas da nossa moral: a paciência, a perseverança, o equilíbrio, ou seja, são meninos tristes orfanados pela sociedade.
            Nos órgãos policiais são premiados os cruéis pela beleza das sessões de tortura e extorsão. Os delegados mais espertos em roubar sem serem percebidos, são considerados patrimônios históricos da corporação, a eles são reservados funções essenciais na hierarquia.
            Mas a corrupção não restringi-se apenas a coisa pública, nos meios empresariais fraudar licitações é especialidade dos raros, fraudar balanço contábil é para poucos, enganar a comissão de fiscalização da bolsa de valores, e afinal, lavar dinheiro, ofício que quase nenhuma empregada doméstica sabe fazer. Todavia nessa capacidade de piorar infinita, os relacionamentos humanos estão em convulsão, ganha admiração na roda do bar o marido que trair mais a sua esposa, os filósofos dos copos constroem teorias transformadoras do mundo, mas não conseguem sequer suas famílias com a retidão merecida. Pedir perdão é tão fora de moda, pois aqueles que o fazem ascendem à categoria de seres divinais. Privatizou-se a indecência, agora é agasalhada nas mentes e corações.
            Nessa paranóia de ações espera-se ansiosamente pelo espetáculo da decência, do triunfo dos raros e nobres, não são necessários mártires, o mundo jamais se compadeceu deles, apenas os intelectuais os lêem, mas não praticam suas idéias. Na alvorada esperada os promotores denunciem os imorais, os policiais neguem o suborno e prezem pela vida humana, os juízes olhem mais uma vez para balança e a espada sempre por perto, os professores ensinem com alma e menos com as teorias educacionais, os homens olhem mais a alma do que a bunda das mulheres, elas por sua vez olhem pra si antes de ser olharem no espelho, e por favor, ensinem mais um vez aos seus filhos e netos não terem vergonha de serem honestos.



Vinicius Lúcio