segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Seres Malandro(s)


 
            Devo confessar a admiração velada que acalento pelos estelionatários, sempre distintos e respeitados, geralmente bem vestidos, ostentando impressionante vocabulário e oratória merecedora de digna atenção. São uma subclasse, quer dizer, classe especial, separando-se dos crimes de sangue e do uso de pólvora e espoleta. Manejam com maestria as palavras, o verbo, o truque, o engodo, o conto do vigário, a falha do sistema, o descuido do analista de segurança, andam no rastro do vacilo do investigador mais perspicaz a sua procura. Jesus os chamaria de raposas com razão. Talvez, Chico Anísio inspirou-se neles para criar o seu contador de mentiras, Coronel Pantaleão.
            Estes vulgarmente intitulados nos círculos policiais de “171’s”, não é crível deduzir que só roubam por dinheiro, mas por sentimento mais nobre e honesto, nesta sociedade de falsidades veladas, ludibriam pela prazer de enganar, semelhante ao pescador esperando a vara tremer sentindo o peixe lutar em vão, mas se por uns poucos segundos o animal pudesse ver a isca e o anzol, o engodo e a recompensa, a promessa desproporcional a vantagem, a ilusão e mundo real, a tolice e a razão, o desequilíbrio e o bom senso.
Afinal, o estelionatário é um pouco da medida do ser humano, assim, são levianos, aparentes, circunstanciais, aproveitadores, caçadores de vantagens fáceis e imediatas. Eles aplicam a dose de forma magistral. Inoculam ilusão, vendem um espelho de desejos, no qual esperar e refletir são verbos demasiadamente difíceis, para uma sociedade na qual ofertam-se horas, todos os dias,  em relacionamentos de açúcar, reuniões de faz-de-conta, promessas impossíveis, produtos impagáveis, padrões de vida desumanos, luxos medíocres.
             Os peixes terrestres construíram submarinos nucleares capazes de permanecerem meses submersos, todavia, ainda não são aptos a atentamente observarem a isca e o anzol, a provocação e a destruição, a palavra doce e o golpe de mestre.

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