quinta-feira, 27 de janeiro de 2011


Hoje em meu coração há sorriso e esperança
Cansei das falácias e de falsas lembranças
Abracei-me aos sonhos que restaram
Corro obstinado todos os dias
Agarrado nas forças que sobraram
Tombo, caio, levanto e sonho de novo
Salto, grito, choro e não acho estranho

Nasci destinado a voar alto
Conto com coração vigoroso
Alma livre e espírito alvoroçado
Na minha retina brilha o prazer da aventura
As minhas emoções desimpedida das agruras
Provocaram a ligeireza dos meus pés habilidosos
Me empurraram em um poço de maldades
Mas em cacimbão fundo eu pulo é de felicidade
Na certeza de quem carrega sonho e poesia
Apesar das avalanches e precipícios da vida
Viverá sempre dias de eterna alegria

Vinicius Lúcio

domingo, 23 de janeiro de 2011

Flores em Vida

Sei, já não são meus, vento levou
Tempos que não mais voltam e então
O que eu fiz por mim e por quem amei
Só desilusão, reconheci
Não construi o que planejei
Pouco abracei e não ofereci perdão
Já não alcanço o passado
Meus limites percebi
O hoje é tudo o que tenho, isso entendi
Preciso trazer a memória histórias que desprezei
Não posso me esquecer, tenho que oferecer
Flores em Vida
Enquanto é dia?

Paulo Cesar Baruk

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Atrevimento Inútil






"Cá entre nós, é um tanto atrevido supor a mim mesmo capaz de atravessar — mentalmente, dormindo ou acordado — todo esse espaço que nos separa e, de alguma forma que não compreendo, penetrar nessa região onde acontecem os seus sonhos para criar alguma situação onde, no fundo da sua mente, eu passasse a ter alguma espécie de existência."                    Caio Fernando Abreu



quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Vaidade Feminina

Numa rua cheia das penumbras da noite, em bairro de gente elegante, passava uma família de catadores das nossas rejeições cotidianas. Um homem meio-maltrapilho carregando uma carroça repleta de utilidades descartadas, uma criança pequena adomercida sobre os papelões no carrinho, um cachorro vira-latas magrinho com rabo feliz e uma mulher ávida de porta em porta recolhendo papéis, sapatos, roupas, comidas duvidosas aos olhos e nariz, mas apetitosas ao instinto de sobrevivência. A mulher com seus trinta e poucos anos, cabelos maltratados pela vida, olhar triste, a pele era bela e suave, pés sujos, mãos cansadas. Todavia, a surpresa resolveu nascer nos baldes e caixas numa esquina entre o asfalto preto e o barro avermelhado da rua de terra, logo em frente a um terreno desocupado esperando os louvores da especulação imobiliária. Ela achou alguns itens que captaram sua atenção e o brilho dos seus olhos. Esqueceu a avançada hora da noite e as rejeições do olhar da mulher que abriu a janela da casa vizinha. Retirou algumas revistas nas quais as modelos e atrizes dizem todos os segredos da beleza da pele, dos cabelos e ocultam as mazelas do coração. Contemplava as fotos de corpos e silhuetas perfeitas a amostra. Olhava como tivesse encontrado súbita identificação interior, a vaidade adormecida acordava pedindo cuidado e carinho. O homem, companheiro da noite, sentou no meio-fio do outro lado da rua fustigado pelo cansaço. Ela folheava as páginas, possivelmente entendia algumas palavras. Nem precisava. As imagens eram auto-explicativas. Perto das revistas havia um espelho infantil pequeno. Olhou-se. Amarrou os cabelos com cuidado. Limpou uma pequena mancha de fuligem da bochecha. Levantou-se mulher novamente. Lembrou-se de si. Encontrou sua própria vaidade, a sua medida, a porção que lhe cabia naquele momento. Pôs as revistas no carinho. Levou o espelho ao bolso e segui o seu caminho.

Vinicius Lúcio

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Coisas do Cariri


Eu gosto mesmo é de mel e queijo
Leite quente das tetas da vaca
Mesa farta com todo beijo
Porco gordo pingando na brasa
Bezerro novo pulando no curral
Criança brincando de toca
Vó fazendo um banquete sem igual

No meu cariri
Tem concriz, galo de campina e sabiá
Bode brabo, relâmpago e preá
Tem primo, tio e tia
Brincadeira e carinho todo dia

Ésaudade saltando as cercas
Invadindo a minha alma
No coração fazendo carícia
Água que rompe o roçado
Aliviando a dor do meu Avô

Rede estendida na varanda
Vovó acordada logo cedo
Café quente cheirando de madrugada
Leite, cuscuz e nata

Pamonha, canjica e goibada
Peru engordado no pirão
Panela de galinha de capoeira
Com farinha e cabidela

Luz de lampião no canto da sala
Estrela e lua cheia
A noite conversa e gargalhada
Piada, verso e risada

Vinicius Lúcio

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Maltrapilho

Conta a história que um pecador notório foi excluído e proibido de entrar na igreja. Ele levou as suas dores a Deus:
— Eles não me deixam entrar, Senhor, porque sou um pecador.
— Do que é que você está reclamando? — Deus perguntou. — Eles também não me deixam entrar.


MALTRAPILHO
Maninho/Bruno Camurati

Paro por aqui
Não posso passar pela porta dos perfeitos
Proíbem meu jeito, defeito não é bem aceito aqui
Acesso negado

Quero te seguir
Será que me deixam aproximar de ti?
Tocar no teu manto, comer nesta mesa, beijar teus pés
Sentir o amor que não tem ressalvas
Que salva o que é meu
Que me chama a estar contigo

E assim posso esperar
que seja aquela mesma esquina
ou mesmo do lado de fora
ninguém merecerá
mas tua graça me conforta
que deixa ao fim Te alcançar



(Retirado do Blog do Camurati - http://www.brunocamurati.com/blog/?p=923)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Encantamento

...que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.
 
(Manoel de Barros)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Rifa-se um coração


Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
 
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
 
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
 
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
 
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
 
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
 
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
 
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta.

                   Clarice Lispector

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Educador - homenagem ao meu Pai - Pedro Lúcio


O Educador

A você meu Pai
um abraço educativo
daqueles que não aprendi na escola
nem muito menos nos livros

quando garoto
obrigado fui a devorá-los
decorando a tabuada do oito
para poder multiplicá-los

letras se tornaram sonhos
educador como você não me tornei
missão impossível
para um garoto de aventuras e leis

lhe dedico esta poesia
poeta adormecido em ti
acordou na minha história
trazendo um rastro de vitória

Educou com prazer
Rico, pobre ou remediado
Fez a matemática renascer
E puxou orelha de professor desleixado

No CAD e na Prata
não deu aula de graça
minha barriga ficou grata
e de sonhos enchi a praça

Educar seu prazer
protestar uma necessidade
fazendo crescer a sociedade
e denunciando as atrocidades

Menino na escola
Professor bem pago
a escola sem ser uma gaiola
impossibilitando o aprendizado

De excluído a incluído
do Ceará saiu agradecido
o Professor virou Secretário
não queria ser chamado de Doutor
só atendia por Professor

Do mesmo jeito ficou
Simples e muito calmo
Dois ternos comprou
Andando mais arrumado

Conversava com todo mundo
menino, professor e merendeira
entrava na classe de Raimundo
e falava com a mãe de Meira

Depois do “aqueta e arreda”
Deixou de ser petista
Caiu fora do barco furado
Tornou-se apenas Lulista

Da UEPB ao Doutorado
voltou ao habitat natural
É um professor devotado
que gosta de aula genial

Ao meu Pai educador
um grande abraço
desse garoto Doutor
e se um dia der aula
arretada que nem o senhor
fecho as portas do escritório
e vou ser Educador


Com carinho, 
                 do seu filho Vinicius Lúcio

Janeiro de 2011

Ternura


Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
                                                                     [ extático da aurora.

Vinicius de Moraes

Adulto

"Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão. 
Está ficando tarde, e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito.
É muito difícil ficar adulto."
Caio F. Abreu

Desconfie dos Coerentes

Incoerente? Não! Flexível.


            Há territórios que podemos andar com tanta maestria, como se índios se impressionassem com nossa desenvoltura diante da imensidão e perigos da floresta amazônica. Mas são raros os lugares onde passeamos confortavelmente, afinal somos tão desonestos conosco e com os outros, que somos capazes de tomar duas decisões antagônicas e imbecis em apenas alguns segundos, e depois de belos minutos dizermos as escolhas tomadas: vocês não me pertencem! E se perguntados acerca disto diríamos com a convicção de um exímio criminalista, a defender o mais vil criminoso, poderíamos usar o argumento de Cristo para a mulher flagrada em adultério. Só que a disfarçatez é tão latente, pois utilizamos do mesmo escudo cristão algumas centenas de vezes durante a semana, e quando nos apertam a consciência dissimulamos lágrimas dispostas a enganar o mais moderno polígrafo dos federais.
Fingimos ser verdadeiros para não sermos politicamente incorretos, esse ser “pseudo-verdadeiro” tornou-se uma convenção social tão relevante quanto usar os lugares corretos para as necessidades fisiológicas. Mas como é prazeroso quando usamos a beira da estrada em viagem para aliviar as cargas biológicas cotidianas.
Afinal, amamos a ambigüidade, porque não dá pra ser coerente toda hora. É degradante e cruel, desumano, agirmos do mesmo jeito a todo momento.É como um barco navegando apenas a direita ou a esquerda, isso é líquido intragável, não desce pelo trato digestivo do maior dos ébrios. Os petistas e democratas entenderam perfeitamente essa máxima, pode-se ser coerente até a próxima encruzilhada, depois dela faz-se concessões, mas como nessa politicagem brasileira, avacalharam até a incoerência, vendem a mãe, matam o irmão e comem o cachorro de estimação no churrasco para continuarem a andar naqueles ômegas australianos pretos. Heloísa Helena no máximo vai chegar a suplente de vereadora nas próximas eleições. Ela é coerente demais. Quando flexionou as idéias elegeu-se senadora com apoios nada coerentes no interior de Alagoas, leia-se, João Caldas e outros Colloridos.
As minhas vizinhas são meus exemplos claros nesse território das ambigüidades morais do cotidiano, leia-se pelo perfil musical utilizado durante algumas manhãs, são muito mais modernas do que um ônibus cheio de Heloísas Helenas, com predominância escutam forró e os temas mais correntes em tal gênero: cachaça, mulher e traição. Todavia em outro dia, naqueles chuvosos e tristes, colocam os ícones da música evangélica nacional, Kleber Lucas, Aline Barros, mas como se as ambigüidades não bastassem escutam Roupa Nova, Roberto Carlos. Então, chego a conclusão de que não escutam música clássica ou jazz porque não lhes fora apresentadas ainda.
Somos todos extremamente coerentes até a próxima esquina da vida, na qual os dilemas nos assaltam sem qualquer compaixão.



                                                                    Novembro de 2009
                                                                                             
                                                                    Vinicius Lúcio

sábado, 1 de janeiro de 2011

Canção para Jesus


Hoje uma canção eu vou te dar
Um beijo te ofertar
Um abraço te oferecer
Minha vida te entregar
E em ti descansar
descansar

Cada vez que olho para ti
Novos sonhos nascem em mim
Minha vida se refaz
Meu coração se satisfaz
Quando estou na tua presença

Tu és tudo que tenho, Jesus
A minha vida, o meu calor
Meu Jesus, Meu Salvador
Minha canção
Minha paixão

Meu amor
Meu Senhor
Meu Jesus

                                                         Vinicius Lúcio