sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Desconfie dos Coerentes

Incoerente? Não! Flexível.


            Há territórios que podemos andar com tanta maestria, como se índios se impressionassem com nossa desenvoltura diante da imensidão e perigos da floresta amazônica. Mas são raros os lugares onde passeamos confortavelmente, afinal somos tão desonestos conosco e com os outros, que somos capazes de tomar duas decisões antagônicas e imbecis em apenas alguns segundos, e depois de belos minutos dizermos as escolhas tomadas: vocês não me pertencem! E se perguntados acerca disto diríamos com a convicção de um exímio criminalista, a defender o mais vil criminoso, poderíamos usar o argumento de Cristo para a mulher flagrada em adultério. Só que a disfarçatez é tão latente, pois utilizamos do mesmo escudo cristão algumas centenas de vezes durante a semana, e quando nos apertam a consciência dissimulamos lágrimas dispostas a enganar o mais moderno polígrafo dos federais.
Fingimos ser verdadeiros para não sermos politicamente incorretos, esse ser “pseudo-verdadeiro” tornou-se uma convenção social tão relevante quanto usar os lugares corretos para as necessidades fisiológicas. Mas como é prazeroso quando usamos a beira da estrada em viagem para aliviar as cargas biológicas cotidianas.
Afinal, amamos a ambigüidade, porque não dá pra ser coerente toda hora. É degradante e cruel, desumano, agirmos do mesmo jeito a todo momento.É como um barco navegando apenas a direita ou a esquerda, isso é líquido intragável, não desce pelo trato digestivo do maior dos ébrios. Os petistas e democratas entenderam perfeitamente essa máxima, pode-se ser coerente até a próxima encruzilhada, depois dela faz-se concessões, mas como nessa politicagem brasileira, avacalharam até a incoerência, vendem a mãe, matam o irmão e comem o cachorro de estimação no churrasco para continuarem a andar naqueles ômegas australianos pretos. Heloísa Helena no máximo vai chegar a suplente de vereadora nas próximas eleições. Ela é coerente demais. Quando flexionou as idéias elegeu-se senadora com apoios nada coerentes no interior de Alagoas, leia-se, João Caldas e outros Colloridos.
As minhas vizinhas são meus exemplos claros nesse território das ambigüidades morais do cotidiano, leia-se pelo perfil musical utilizado durante algumas manhãs, são muito mais modernas do que um ônibus cheio de Heloísas Helenas, com predominância escutam forró e os temas mais correntes em tal gênero: cachaça, mulher e traição. Todavia em outro dia, naqueles chuvosos e tristes, colocam os ícones da música evangélica nacional, Kleber Lucas, Aline Barros, mas como se as ambigüidades não bastassem escutam Roupa Nova, Roberto Carlos. Então, chego a conclusão de que não escutam música clássica ou jazz porque não lhes fora apresentadas ainda.
Somos todos extremamente coerentes até a próxima esquina da vida, na qual os dilemas nos assaltam sem qualquer compaixão.



                                                                    Novembro de 2009
                                                                                             
                                                                    Vinicius Lúcio

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