quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Medos Cotidianos


Somos de uma geração cheia de medos. Temos verdadeiro pavor as hostilidades da vida e relutamos em olhar o futuro, afinal somos o presente, o hoje. O efêmero e transitório nos basta. Tentamos disfarçar esses incômodos, e fazemos muito bem até que uma grande perda e dor profunda nos ponha diante do espelho sem as nossas maquiagens emocionais. A principal delas é o medo do futuro, especificamente o medo da derrota, medo do fracasso, e o mais cruel, o medo da dúvida. Planos traçados, sonhos idealizados, vislumbres ambiciosos. Mas existem pouquíssimas certezas e uma imensidão de riscos, uma relação desigual. Carregamos tantas exigências para ser feliz, para estar bem e satisfazer-se consigo mesmo. Então a pressão emocional das nossas expectativas nos põe de joelhos e impõe desvios imorais, condutas levianas, suicídio sentimental. O preço de uma certa vitória(nunca poderia intitular-se assim) torna-se mais cruel do que o próprio fracasso. E este em geral nos humaniza, nos faz melhores, injeta em nós uma certa humanidade. O êxito em nossa sociedade associou-se a capacidade de ter, de consumir, de possuir. A beleza da cirurgia plástica, os recursos do utilitário esportivo, as roupas com preços impronunciáveis, a magia do comprar e amanhã descartar sem apegos, até os objetos de valor sentimental foram abandonados sem explicação. Somos reféns das inovações tecnológicas. A ciência é o nosso deus. A novidade é sempre o máximo, mas nem avisam a ela: amanhã tu serás orfã. A nova novidade será muito mais atraente. O Iphone 4 está “doente” desde da ciência do lançamento do Iphone 5. Todavia, doentes estamos nós, pois vinculamos nossa existência ao que podemos ter. Em outra perspectiva, sabemos tudo, mas não sabemos abraçar, aconselhar, sorrir, perdoar, compreender, parar, refletir, voltar atrás, estender a mão, descansar, chorar. Estas palavras servem apenas para as cerimônias religiosas e para soluções casuais dos conflitos amorosos. É mais um bom discurso. Ir ao hospital visitar o parente doente é uma atividade sem prestígio, mera convenção social. Ajudar o primo drogado é papel dos outros. Levar a avó solitária e esquecida na casa enorme da família ao médico é uma via crúcis. Ninguém se habilita nessa aventura, apenas a tia que ficou para “titia” é sempre a vocacionada. Para completar, nossas paixões amorosas são feitas de açúcar e derretem com a primeira chuva. Nos desapegamos tão fácil como nos apegamos. E por estes e uma imensidão de outros motivos que temos tantos medos. Prisioneiros de nós mesmos, das nossas ambições, das nossas vitórias.


Vinicius Lúcio – 29.Setembro.2011




P.S. No próximo post. Falarei do perfil dos nossos relacionamentos amorosos. “Amores de Açúcar.”

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