sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O garoto, o louco e o homem


Lá vai o garoto no meio da rua caminhando, despreocupado, ar solene, olha pro chão e vai fixo chutando uma pedrinha a tilintar pelo asfalto escuro, as árvores centenárias e frondosas assistem ao espetáculo. Desce uma lágrima do canto do olho, quente, verdadeira, seus olhos marejam mais e outras lágrimas rolam na face, sugerindo que ali anda mais um ferido, mutilado, iludido. Na mão esquerda segura com força um buquê de flores vermelhas, lindas quando iluminadas pelas luzes amareladas do postes daquela rua tão banal naquele bairro de belas casas e apartamentos suntuosos. Andar cabisbaixo, as pétalas vão caindo na cadência das lágrimas, criaram uma espécie de caminho e lá no fim do caminho pode se ver uma pessoa, uma mulher, em pé na calçada. Cabelos pretos confundem-se com a escuridão da noite, na penumbra esconde-se a silhueta, o vento sopra seus cabelos. O garoto continua a caminhar tão vagarosamente parece carregado de fardos, de dúvidas e dores, e pára, volta o corpo para traz, e contempla aquele corpo na escuridão ao longe, então levanta os braços e grita com rara convicção: Eu não desisti! Na calçada oposta passinhos pequenos põem-se para fora, uma garotinha sai com seus pais das portas de vidro de um belo prédio. O garoto, o homem, o louco, aproxima-se e entrega as flores e diz a criança para entregar a mulher mais doce e bela que ela conhece na rua. E o louco corre, faz estrelinhas, dá cambalhotas, com a alegria de um atleta juvenil. A garotinha sorri, seus pais ficam estupefatos. Ao fundo sai das sombras, a mulher dos cabelos negros e caminha em direção ao carro onde a família agraciada pelas cenas inusitadas da vida preparava-se para entrar. Chega perto e cumprimenta-os com uma boa noite e logo pergunta a loirinha se ela tem alguma coisa a entrega-la, a garotinha sorri, as bochechas ficam vermelhas e ela estende as mão dando-lhes o buquê, aquela altura tinha se transformado em apenas umas duas ou três rosas. A garotinha corre e a abraça, a mulher a segura nos braços e a criança diz: Um louco passou por mim, me deu essas rosas e me disse para entregar a mulher mais linda da rua. Uma lágrima sai dos olhos doces, castanhos e belos, em seguida, põe a garota no chão e sai beijando e abraçando as rosas.

                                                                                             Vinicius Lúcio

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