Querem o meu verso
De nariz para o ar,
Equilibrando a esfera,
Enquanto alguém bate com a varinha
Para me por no compasso.
Pedem-me que não seja violento
E me mantenha equilibrado
Entre a forma e o fundo,
Porque a platéia não deve sofrer
Emoções fortes.
Mas eu,
nascido num tempo de sussurros,
Tenho a voz contundente
E por mais que me esforce
Não sirvo para cantar no coro.
Sei apenas tocar meu atabaque.
Assim, que me perdoem
Os amantes dos saraus
E os arquitetos de labirintos,
Que as senhoras se protejam com o xale
E os corações delicados
Se encostem à parede
Para fugir às correntes de ar.
Bato no atabaque
Até estourar os tímpanos fracos
E chamo num grito de gozo
As almas bravias
Para dançarmos juntos
Mordidos pela mentira do mundo
Com os nervos envenenados
E a jugular aos pinotes.
Eduardo Alves da Costa
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