segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Homem de Aço


             Não estou cabendo mais nas minhas idéias, cheias daqueles conceitos fáceis e inúteis. O que pensava ontem já não penso mais, minhas opiniões pétreas abandonei, tornaram-se tão duras como uma pedra de açúcar exposta a chuva da vida. Nessas horas dá vontade de voar, pular de pára-quedas, fazer um atentado terrorista naquilo que cremos a vida inteira, e os nossos pais nos ensinaram com a convicção de uma companhia de atores circenses: Olha garoto, isto é verdade.
            Mas qual das verdades? Aquela simpática, doce, confortável, perfeita para aqueles momentos. Aquela conivente, bajuladora, entendiante, promíscua aos nossos desejos baixos e profanos de ser humano. Tentamos impô-la uns aos outros, crendo ela ser o elixir para dias melhores, então descobrimos que o remédio milagreiro para nossa alma é fel homicida e indelicado para o coração, os sentimentos e a vida alheia.
            Nos justificamos, procuramos uma justiça viciada para nos absolver como uma dose de  antibiótico minuciosamente preparada para matar...a nós mesmos, e em poucos instantes deseja-se ressuscitar e esquecer que aquilo nunca aconteceu e vivemos acreditando piamente na anedota do homem de aço, um ser desprovido de ducto lacrimal.
            Todavia, até Robocop, meio homem e meio robô, em um dos filmes tira seu capacete metálico e confessa com voz entrecortada toda sua humanidade editada, até chora e se apaixona pela bela mulher cinematográfica, mas humana.
            E queria nós sermos tão imóveis, indolores, anestesiados e mórbidos ao ponto permanecermos inertes diante do chacoalhar do navio dos dias, onde uns jogam-se a escuridão da meia-noite em alto-mar, outros dançam no salão, outros brincam de contar estrelas, uns adoecem, alguns morrem, uns sorriem por fora e choram por dentro, mas em uma hora qualquer todos enjoam, enjoam da vida.
            E os que mais vivem e usufruem do navio correm o risco atraentemente grave de enjoar de si e dos seus encantos, entretanto naquele navio há um lugar, onde muitos entram e saem, lá uns escrevem poesias, alguns fazem músicas, muitos se enamoram, pintam quadros, dançam, uns choram e riem e fazem rir, mas todos saem daquele santuário, pois entendem que as crises ensinam a beleza de viver intensamente e a vida é um presente para seres demasiadamente humanos como nós. 

                                                                        Vinicius Lúcio


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